No final de fevereiro, John Acunto, cofundador e CEO da Infinite Reality, fez uma entrada dramática em um palco em Los Angeles para um evento para investidores. Em meio a um fundo em azul-neon, ele fez um discurso com tom defensivo, afirmando: “O fator baboseira acabou. Vocês realmente acham que estaríamos falando de um investimento de US$ 3 bilhões e que seríamos uma das maiores empresas do setor se não estivéssemos fazendo o que dizemos?” Seguiu com uma provocação: “Fiquem de pé e aplaudam a si mesmos. Vocês construíram uma empresa de US$ 12 bilhões!”
O diretor de negócios da Infinite Reality, Amish Shah, foi ainda mais audacioso, garantindo que o objetivo da empresa era alcançar uma avaliação de até US$ 100 bilhões ainda naquele ano. Essas declarações, porém, soam desconcertantes e questionáveis, especialmente considerando os desafios legais enfrentados pela empresa, que está envolvida em processos de credores buscando o pagamento de dívidas não quitadas. O investimento de US$ 3 bilhões que Acunto celebrou, alegadamente uma das maiores rodadas de capital de risco, veio de um investidor anônimo.
Apesar da grande quantia levantada, Acunto e sua empresa enfrentam várias questões financeiras, incluindo uma ação da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC) exigindo o cumprimento de uma intimação. A Infinite Reality foi avaliada em US$ 15,5 bilhões após uma aquisição de uma empresa de avatares de IA em 2024. Isso gerou uma enorme disparidade entre o valor da empresa e sua receita, que foi de US$ 75 milhões no último ano, representando uma avaliação de 200 vezes sua receita – muito mais alta que o múltiplo de empresas renomadas no setor de inteligência artificial, como a OpenAI.
A empresa se destaca por seu investimento no metaverso, uma área que viu um declínio no interesse dos investidores, especialmente após o fracasso de Mark Zuckerberg em construir um metaverso bem-sucedido. A Meta, por exemplo, gastou bilhões tentando lançar o Horizon Worlds, mas o número de usuários da plataforma foi muito abaixo das expectativas.
O principal produto da Infinite Reality, uma ferramenta que transforma sites em “vitrines virtuais” em 3D, gerou um crescimento significativo em sua receita, mas ainda assim a empresa se encontra distante de alcançar os números ambiciosos apresentados por Acunto. Parte do crescimento da empresa vem das aquisições feitas desde 2022, incluindo empresas como o Napster e Thunder Studios. No entanto, ainda existem muitas dúvidas sobre a legitimidade dessas aquisições e o real impacto delas no setor.
Apesar da falta de notoriedade dentro do setor de tecnologia e metaverso, Acunto e sua equipe anunciaram uma rodada de financiamento de US$ 3 bilhões, que foi surpreendente para muitos. Especialistas do setor, como Sara Gherghelas, analisaram que, até aquele momento, poucos haviam ouvido falar da Infinite Reality. Além disso, alguns ex-executivos de empresas adquiridas pela Infinite Reality expressaram dúvidas sobre a empresa e o valor inflacionado de sua avaliação.
Em relação à situação financeira da Infinite Reality, a empresa foi processada por inadimplência em diversas ocasiões. O banco de investimentos TD Cowen, por exemplo, entrou com uma ação por taxas não pagas relacionadas à aquisição da ReKT, que resultou em uma decisão judicial em favor do banco. Além disso, a empresa enfrentou ações de outros fornecedores e prestadores de serviços por falta de pagamento, que já estão sendo resolvidas.
A crescente avaliação da Infinite Reality gerou especulações sobre a origem do dinheiro e a transparência dos investimentos. O último aporte de US$ 3,36 bilhões, alegadamente vindo de um único investidor anônimo, teve sua origem e termos do acordo mantidos em sigilo. Além disso, a empresa continua enfrentando desafios em relação ao fluxo de caixa e ao cumprimento de suas obrigações financeiras, com alegações de que parte do dinheiro arrecadado ainda não foi transferido para as contas da empresa nos Estados Unidos.
A empresa também está lidando com uma ação judicial da SEC, que questiona a veracidade das informações apresentadas pela Infinite Reality sobre sua avaliação de US$ 1,85 bilhão. Enquanto isso, a empresa continua a levantar novas rodadas de capital e aumentar sua avaliação por meio de aquisições, como a recente compra da startup Touchcast, que aumentou ainda mais o valor de mercado da Infinite Reality para US$ 15,5 bilhões.
A história da Infinite Reality é marcada por incertezas, desde o passado duvidoso de Acunto até as informações contraditórias sobre parcerias e investimentos. A empresa agora está aguardando um teste crítico de sua avaliação, que poderá ser determinado nos próximos meses, conforme suas ações começam a ser negociadas em plataformas como a Nasdaq Private Markets.
Fonte: Forbes Brasil